Encontro Latino-Americano de Comunicação e Sustentabilidade

Sustentabilidade: cola ética para a crise moral

por Isabel Gnaccarini, para a Envolverde

Empresas e Sustentabilidade foi o tema que encerrou o primeiro dia (16) do evento realizado pelo Instituto Envolverde, discutindo os diferentes enfoques da sustentabilidade na mídia e no mundo. O Encontro Latino-Americano de Comunicação e Sustentabilidade segue até sábado (18) e ainda há vagas para participar.

Já resumindo o clima do dia, o jornalista Adalberto Marcondes recepcionou os participantes do evento lembrando que “a sustentabilidade é a ferramenta capaz de nos assegurar futuros”. E acrescentou “é a cola ética para a crise moral, social e econômica que vive a sociedade”, disse. Uma sociedade, aliás, guiada pela técnica, mas com pouca ética, como pontuou a senadora Marina Silva em sua palestra magna proferida na abertura. Na perspectiva da discussão aberta, o tema do posicionamento sustentável das empresas toma contornos capitais.

Na mesa, a consultora em sustentabilidade empresarial, Flávia Moraes, prega o auto-conhecimento como primeiro passo para aquelas empresas que queiram tomar o caminho da responsabilidade para com a sociedade e o planeta. “A empresa deve representar ela mesma a mudança que queira empreender em seu espaço de ação”, disse Flávia. A ex-diretora de comunicação da Philips tem larga experiência em direcionar empresários para o tema. Suas falas ecoaram em uma mesa eminentemente técnica, mas que tentou questionar os rumos de uma comunicação institucional para essa área.

Antes de alcançarem uma reputação responsável e comunicarem todas as suas ações positivas aos parceiros, é “preciso que as empresas abram um verdadeiro diálogo” entre as partes envolvidas, sejam ONGs, comunidades e outras. “Uma empresa nunca será sustentável se reproduzir a injustiça social reinante na sociedade”, ensina Flávia Moraes. Para além de incorporarem os valores do triple bottom line, uma empresa deve permear suas atitudes pela ética. Ou melhor, antes de tomar o compromisso com ações sustentáveis (e comunicar estas ações!), as lideranças empresariais devem reorganizar seus negócios e trazer para suas lideranças o pacto da mudança de dentro para fora.

Segundo a consultora, ao se perguntarem se de fato seus bens e serviços são relevantes, se o seu investimento na área social visa à construção de um novo paradigma, ou se conseguem de fato ouvir os beneficiários de seus projetos, presidentes e CEOs estarão no caminho de rever conceitos importantes e transformar seus negócios em empresas verdadeiramente orgânicas.

Ao compartilharem das idéias da consultora, Luis Fernando Maia Nery, gerente de Responsabilidade Social e de Comunicação Institucional da Petrobras, e Pablo Barros, coordenador de Comunicação do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), também acreditam que o importante processo traz incomensuráveis retornos de credibilidade, confiança e reputação (ou imagem) para a marca e o negócio.

Para ambos, não é mais possível pensar a comunicação empresarial sem pensar em co-responsabilidade de todos para com todos, em um contexto planetário. Hoje, esta comunicação empresarial deve ser participativa e voltada ao conhecimento caso queira ser uma ponte para um relacionamento de confiança de empresas com seus clientes, fornecedores ou parceiros. Nestas idéias, estão a base para um novo posicionamento do negócio. E, até para um novo paradigma de desenvolvimento econômico, social e ambiental.

No caso da Petrobras, uma das grandes conquistas almejadas é “ser considerada por todos como uma empresa grande e rentável, preferida entre seu público de interesse”. Este sim é um grande valor sustentável, segundo Nery. Alcançá-lo é trabalho que impõe um ritmo inerente a um processo de transformação, onde se criam “valores com riscos minimizados”.

Comunicar esta estratégia com transparência em relatórios de prestação de contas à sociedade é a ponta de uma cadeia de esforços concentrados, onde a evolução de padrões de transparência fez com que empresas como a Petrobras adotassem modelos elaborados de balanço social, caso do G3, do Global Reporting Initiative (GRI).

Seja adotando os princípios de responsabilidade social do Instituto Ethos ou modelos sofisticados de contas sociais, a sustentabilidade em uma empresa já não pode mais ser tratada como uma simples alavanca de imagem corporativa. Mas deve refletir mudanças de paradigmas. Ao menos é o que se espera para um mundo com novos valores.

* A cobertura do Encontro Latino Americano de Comunicação e Sustentabilidade está sendo feita por uma equipe de jornalistas. A coordenação é de Naná Prado e o material será publicado no site da Envolverde (http://www.envolverde.com.br) e do Mercado Ético (http://www.mercadoetico.com.br).


Crédito de imagem: Clóvis Fabiano


(Agência Envolverde)