Encontro Latino-Americano de Comunicação e Sustentabilidade

Encontro de Comunicação e Sustentabilidade têm forte presença na mídia


Realizado em São Paulo, em outubro, o Encontro Latino-Americano de Comunicação e Sustentabilidade reuniu 42 palestrantes para debater três grandes eixos da sustentabilidade: Amazônia, Água e Energia. Foram três dias e um público médio de 250 pessoas, todos profissionais ligados à comunicação, seja de mídias ou de empresas. A equipe da Envolverde realizou a “cobertura on line”, em parceria com o site Mercado Ético, com a coordenação da jornalista Naná Prado. Este evento foi uma realização da Envolverde e teve como curadores os jornalistas Dal Marcondes, Fátima Cardoso e Luciano Martins Costa.

Estamos disponibilizando para os leitores da Envolverde os arquivos da cobertura realizada pela mídia e por sites e blogueiros sobre o evento. É um registro da presença de palestrantes como Marina Silva, Ladislaw Dowbor, Ignacy Sachs, Vilmar Berna e muitos outros. Em breve vamos publicar neste espaço os vídeos com entrevistas realizadas pela jornalista Darlene Mencone com grande parte dos palestrantes.

Para baixar o clipping do evento clique em:

Cobertura on line Envolverde - http://www.wowbrazil.com.br/envolverde/clipping/Clipping_Cobertura%20Envolverde.pdf

Clipping Mídia Digital - http://www.wowbrazil.com.br/envolverde/clipping/Clipping_Midia%20Digital.pdf

Clipping Mídia Impressa - http://www.wowbrazil.com.br/envolverde/clipping/Clipping_Midia%20Impressa.pdf

Clipping Repercussão - http://www.wowbrazil.com.br/envolverde/clipping/Clipping_Repercuss%e3o.pdf

Mais informações:

Envolverde – 11 30344887


Cobertura on line



16 de Outubro

No começo, a mudança é apenas um desvio

por Naná Prado*

“Na busca pela sustentabilidade, temos um desafio ético e não técnico”, afirmou a senadora Marina Silva em palestra magna no Encontro Latino-Americano de Comunicação e Sustentabilidade.

Mulher, professora, política e latina-americana. Quatro características que fazem de Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente e atual senadora do Acre, uma falante nata. E ela discursou durante mais de uma hora sobre Sustentabilidade: um novo modelo de desenvolvimento para o século XXI, na manhã de quinta-feira (16), no Encontro Latino-Americano de Comunicação e Sustentabilidade, realizado pelo Instituto Evolverde.

O discurso da senadora, focado em sua vivência experimental de política e cidadã comprometida, traçou um importante elo entre as mudanças em curso e os desvios no caminhar. Da sustentabilidade política à sustentabilidade ambiental, econômica, social e até estética, Marina Silva acredita que precisamos de equivalência ética para colocar todos os nossos conhecimentos técnicos e científicos em prática.

“A sustentabilidade ética é a que move todas as demais. Ainda não temos equivalência ética para colocar todos os conhecimentos tecnológicos em prática de forma igualitária, para todos”, afirma. Apesar do arsenal técnico, que garante informação em tempo real, temos ainda muita gente que nem ao menos sabe escrever. “Tanta tecnologia ainda não foi utilizada para oferecer serviços básicos a milhões de pessoas”. E Marina Silva foi além, afirmando que não se trata de um problema técnico, mas sim ético.

Como chegar a esse modelo sem ficar na abstração?

Marina Silva utilizou da evolução da humanidade para mostrar que é possível conquistar essa sustentabilidade ética, base para todas as demais. Do desenvolvimento das habilidades do homem, colocado pela senadora como a era dos ‘homo habilis’ (homem habilidoso), passando pela era do ‘homo bellicus’ e agora na ‘homo economicus’, Marina acredita que é possível chegar ao ‘homo sustentabilis’.

“Basta termos clareza de que as mudanças não acontecerão pela onipotência dos nossos pensamentos. É fundamental criar meios para alcançar essa mudança”, afirmou. Visão, processo e estrutura fazem parte de ações mobilizadoras.

Até o momento, segundo Marina Silva, pensávamos na utilização de recursos como se eles fossem infinitos e como se o planeta possuísse uma forma ilimitada. “A mudança é de base civilizatória. Chegamos na era do limite e temos que lidar com isso da maneira mais criativa e inspiradora”.

De um curso feito na França, com o sociólogo Edgard Morin, Marina Silva aliou ao seu discurso o conceito de que a mudança é, no começo, apenas um desvio e acrescentou: “existem desvios que queremos e que fazem parte da trajetória e outros não queremos ver em curso”.

Para os profissionais de comunicação, presentes ao evento, Marina Silva sugeriu: novas pautas, focadas na sustentabilidade, dependem de olhares acurados, atento aos desvios que queremos. Fazendo uma brincadeira com um jogo de futebol, Marina afirmou que o olhar deve estar focado para onde a bola vai estar e não no local onde ela está.

Para Adalberto Marcondes, presidente do Instituto Envolverde, “o objetivo deste evento é levar pautas para toda a mídia e para a sociedade, mostrando que existem alternativas à degradação social, ambiental e agora também econômica que estamos vivendo”. Segundo ele, os jornalistas de mídias e assessorias têm a responsabilidade de transmitir essas informações. “É nossa responsabilidade compreender como a sustentabilidade pode se transformar em ferramenta capaz de fazer a mudança”, explicou.

Lideranças multicêntricas

Como citado em outros discursos, a senadora voltou a falar da importância de lideranças multicêntricas como uma forma de todos arcarmos com as nossas responsabilidades. “O desafio deste século é desfragmentar as instâncias políticas. Quem disse que o ministro de energia não pode cuidar do meio ambiente e vice versa?, questionou Marina Silva.

“Mais do que mudar o modelo de desenvolvimento, precisamos mudar a forma como vemos as coisas. É uma questão de significado e significante e uma busca eterna por sentido”.

Os países ricos estão sendo interpelados pelo que eles fizeram no passado e os países pobres estão sendo interpelados pelo que eles estão fazendo e pelo que ainda vão fazer. “No Brasil, estamos sendo interpelados pelo passado e pelo futuro. Veja o caso da Mata Atlântica que depois de décadas de destruição resta apenas 7% de sua mata original. Aprendemos com nossos erros e agora está mais do que na hora de não cometer os mesmos na Amazônia”, afirmou.

O processo de mudança depende do comprometimento de todos. “É como uma corrida 4x4: cada um leva o bastão até onde consegue. Não acredito que existem saídas mágicas, mas sim sujeitos protagonistas de sua história que fazem a diferença”, finalizou a senadora Marina Silva.

* A cobertura do Encontro Latino Americano de Comunicação e Sustentabilidade está sendo feita por uma equipe de jornalistas. A coordenação é de Naná Prado e o material será publicado no site da Envolverde (http://www.envolverde.com.br) e do Mercado Ético (http://www.mercadoetico.com.br).

Crédito de imagem: Clóvis Fabiano


(Agência Envolverde)

Quem banca a destruição da Amazônia?

por Karina Miotto*, para a Envolverde

A mesa redonda “Amazônia e Sustentabilidade”, que aconteceu nesta quinta-feira (16), durante o Encontro Latino-Americano de Comunicação e Sustentabilidade, foi marcada por fortes opiniões de seus participantes, frases de efeito e informações que devem levar muita gente a se questionar sobre hábitos pessoais de consumo – o principal financiador da destruição da floresta.

Participaram da mesa João Meirelles, diretor do Instituto Peabiru e autor do “Livro de Ouro da Amazônia”, da editora Ediouro; Caio Magri, assessor de políticas públicas do Instituto Ethos e um dos principais articuladores do Fórum Amazônia Sustentável e Nelson Cabral, gerente setorial de segurança, meio ambiente e saúde da Petrobras. O jornalista Adalberto Marcondes, presidente do Instituto Envolverde, foi o moderador.

Se João Meirelles bateu na tecla dos prejuízos causados pela pecuária, Caio Magri explicou a importância do Fórum Amazônia Sustentável e Nelson Cabral falou sobre ações sócio-ambientais da Petrobras, o que os três discursos tiveram em comum foi a abordagem da responsabilidade de cada cidadão, como consumidor, na destruição da maior floresta tropical do planeta.

João Meirelles vem de uma família com dez gerações de pecuaristas. É um profundo conhecedor do assunto e, como ele mesmo diz, hoje está bem é “do outro lado da cerca”. Ele afirmou que 75 milhões de hectares de floresta já sucumbiram sob as patas bovinas. “A culpa não é do boi, é do pecuarista”, faz questão de frisar. Se na Europa a média é de 3,5 cabeças de gado por hectare, na Amazônia é 0,5 – uma proporção completamente descabida.

De acordo com os participantes, a pecuária bovina gera diversos problemas, entre eles trabalho escravo, uso de enormes quantidades de água, queimadas e desmatamento. É o principal vetor de destruição da Amazônia, seguido pela indústria da soja e a extração ilegal de madeira.

Aproximadamente 20% do território da floresta já foi destruído e pesquisas apontam que se o ritmo continuar nesta velocidade, em menos de 30 anos não haverá mais Amazônia e a geração atual terá sido a última a conhecer a floresta como ela ainda é.

Hábitos de consumo

Meirelles e Magri afirmam que o maior mercado consumidor de carne bovina da Amazônia é o próprio Brasil, sendo que grande parte deste montante vai parar no prato de moradores do estado de São Paulo.

Se o consumo cresce, o desmatamento também cresce. É preciso quebrar este ciclo. Por isso, a conscientização e a adoção de hábitos de consumo mais conscientes é fundamental. “O consumidor não pergunta de onde vem a carne, os produtores não sabem responder e ninguém sabe nada. Precisamos nos posicionar e perguntar ao supermercado de onde vêm nossos produtos”, afirma Meirelles.

Caio lembrou que na quarta-feira (15), durante o seminário Conexões Sustentáveis: São Paulo – Amazônia, as três maiores redes de supermercado do país, compostas por Wal-Mart, Carrefour e Grupo Pão de Açúcar, aceitaram ser pressionados pelos consumidores, pois trabalhariam para evitar a compra de produtos de origem ilegal da Amazônia. “A sustentabilidade é a última possibilidade de vida do homem neste planeta. Estamos falando de perpetuação da espécie humana. Ou dormimos o sono eterno ou começamos a pensar em como enfrentar estas questões construindo opções sustentáveis”.

Nelson complementa afirmando que ter conhecimento é fundamental. “Precisamos ensinar bem e disseminar, pois o que aprendemos deve ser compartilhado por todos. Precisamos agir”. É preciso se posicionar e fazer alguma coisa. Não daqui dez anos, como lembra Caio, mas já. “A cada três mordidas no seu bifinho, uma vem da Amazônia. Estamos entregando a floresta nas mãos dos maiores bandidos deste país porque ainda tem gente que come carne que vem de lá. Não adianta dizer ´Ah como eu amo a Amazônia!´, mas continuar comendo churrasco”, afirma João.

Como diz Marina Silva, precisamos aprender com nossos erros. A Mata Atlântica foi destruída pela pecuária e dela hoje restam apenas 7%. Permitiremos que o mesmo aconteça com a Amazônia?

* Karina Miotto é jornalista, mora em Manaus e é autora do blog Eco-Repórter-Eco (http://www.ecoreportereco.blogspot.com). ;

A cobertura do Encontro Latino-Americano de Comunicação e Sustentabilidade está sendo feita por uma equipe de jornalistas. A coordenação é de Naná Prado e o material será publicado no site da Envolverde (http://www.envolverde.com.br) e do Mercado Ético (http://www.mercadoetico.com.br).


Crédito de imagem: Clóvis Fabiano


(Agência Envolverde)

Sustentabilidade na mídia: é preciso ter boas pautas

por Silvia FM*, para a Envolverde

Há espaço para a pauta ambiental, o que é preciso é ter boas pautas. “Dá pra vender muito bem”, afirma Eduardo Acquarone, editor dos Programas Fantástico, Profissão Repórter e criador do site Globo Amazônia da Rede Globo de Televisão. Depois de pouco mais de um mês de funcionamento, o site registrou o acesso de 30 milhões de internautas que hoje monitoram o desmatamento do bioma. A atração é o mapa interativo, atualizado até seis vezes por dia pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Acquarone conta que ele mesmo achava que a Globo não iria comprar essa briga, de denunciar o avanço da soja e da pecuária na Amazônia. Mas para sua surpresa, a empresa não só comprou a idéia – que teve o dedo de uma amiga militante do Greenpeace – como pretende ampliar os serviços do site e a cobertura ambiental no ano que vem.

Essas foram algumas das revelações da mesa redonda Sustentabilidade na Mídia, moderada pelo jornalista Vilmar Berna, no primeiro dia do Encontro Latino-Americano de Comunicação e Sustentabilidade, hoje (16/10), no hotel Jaraguá no centro de São Paulo. Acquarone relata que não foi a empresa que se opôs, mas os próprios colegas da produção que precisaram ser convencidos da importância do assunto. Ele teve que explicar o que significava questões como a invasão de soja perto de Santarém, no Pará. E Acquarone conseguiu mostrar para a equipe e montar a matéria em conjunto com o Greenpeace. Resultado: uma matéria de 10 minutos flagrando a guerra dos ambientalistas com os grandes plantadores, que simplesmente chegam no meio da floresta, desmatam e espalham sementes de soja. Segundo o Greenpeace, 40% dessa soja é exportada para Europa, serve de ração para frango confinado. O produto sai da região pelo porto da Cargill.

E toda essa história foi contada em pleno horário nobre da Globo. O jornalista, que diz não ser ambientalista, lembra que o grande problema das redações é a falta de pauta. Só se trabalha as pautas quando o resultado é garantido. E a líder de audiência está constando, pelo Ibope, que a cobertura da situação da Amazônia vale a pena, mesmo sendo muito cara. “Só o aluguel de um monomotor sai 30 mil reais”, comenta.

Avaliação

Já Luciano Martins Costa, editor do Observatório da Imprensa, que analisa há oito anos a cobertura de imprensa, inclusive com um programa na Rádio Cultura, Rede Brasil e Rede Inconfidência, assegura que a imprensa está muito atrasada com relação à cobertura dos temas envolvendo a sustentabilidade. Ele conta um caso citado por uma jornalista da revista Época durante um evento da área. Ela revelou que se sentia participando de movimentos de vanguarda, mas se sentina recuando 10 anos quando voltava para a redação. “Na verdade, o retrocesso é de 20, 30 anos”, acredita Martins Costa. Ele recorda dos tempos do jornal “Estado de Alerta”, quando era enxotado das vilas Natal e Socó em Cubatão, por seguranças da Petrobras. E hoje a empresa vem mostrando o que tem feito pelo bem do ambiente, comenta.

Para Martins Costa, a imprensa não percebeu a evolução dos tempos, que hoje a questão da sustentabilidade não é assunto só de ecologista. Ele entende que o jornalista precisa vivenciar mais a importância do seu papel social na sociedade. Na sua avaliação, falta na maior parte dos profissionais da imprensa uma estrutura de valores que dê significado à profissão. “Acompanhei todos os processos de modernização dos jornais de São Paulo, a troca de profissionais mais experientes por menos experientes” comenta. Como resultado, as redações ficaram dominadas pelo perfil “Yes man e Yes woman”, menos crítico. Ele conclui que os editores hoje estão mais preocupados com o status do emprego, assumindo uma posição conservadora e resistindo a discutir os sistemas.

E o jornalista que já passou pelas redações da Folha de S. Paulo, do Estadão e da Veja aponta que a própria questão da sustentabilidade vem de um longo processo, desde o pós-guerra, passando pelo Clube de Roma, que nos anos 60 propôs a discussão sobre os limites do crescimento econômico, até chegar às atuais questões do aquecimento global e da crise do sistema financeiro.

Joaquín Costanzo, Diretor da IPS para América Latina, começou sua palestra lembrando o desafio da imprensa a manter as pautas da sustentabilidade com o grande assunto do momento: a crise do mercado financeiro. E observa: antes da queda das bolsas se falava que não havia dinheiro para resolver os problemas do aquecimento global. Mas de repente, surgiram três trilhões de dólares dos governos para salvar os bancos. “Há dinheiro para algumas coisas, para outras não”, pontua.

Para Costanzo, a crise ambiental é muito grave, é preciso resolver problemas comuns entre os países. Entretanto, para isso é preciso um jornalismo que faça análise dos fatos, que tenha profundidade. “É preciso tomar partido”, ratifica, para isso é necessário informação com consciência, para haver participação. Ele entende que a realidade da imprensa entre os países da América Latina é muito parecida. São poucas famílias que detém o poder da grande mídia.

Como exemplo, ele menciona o “Terramérica”, um suplemento que é publicado em 20 diários da América Latina (veja no site http://www.envolverde.com.br, às segundas-feiras), que tem uma boa receptividade do público. “É importante a permanência da periodicidade”, complementa.

* Silvia FM é jornalista freelancer e mora em Porto Alegre.

A cobertura do Encontro Latino Americano de Comunicação e Sustentabilidade está sendo feita por uma equipe de jornalistas. A coordenação é de Naná Prado e o material será publicado no site da Envolverde (http://www.envolverde.com.br) e do Mercado Ético (http://www.mercadoetico.com.br).

Crédito de imagem: Clóvis Fabiano


(Agência Envolverde)

Amazônia e os 3 mil quilômetros de rodovias asfaltadas pelo PAC

por Glória Vasconcelos, da Envolverde

ONG luta no congresso e faz articulações para que se evite ação do governo em criar rodovias no meio da Amazônia.

As rodovias causam grandes impactos sociais e ambientais na Amazônia e podem dificultar tentativas de controlar o desmatamento. Ignorando este fato, o governo federal as considera prioridade pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). A ONG Preserve Amazônia faz articulações no Congresso para que se discutam alternativas às rodovias, tais como ferrovias. Esse foi o tema da apresentação de Marcos Mariani, da Preserve Amazônia, ontem (16), no Encontro Latino-Americano de Comunicação e Sustentabilidade.

As rodovias em questão são as BRs: 319, 230, 163, 319 e 230. A maioria é estrada de difícil acesso. “Se na BR-163, que não foi asfaltada ainda, o simples anúncio [do início da pavimentação] aumentou o desmatamento em 500%, imagina o que vai acontecer na BR-319, que cruza o coração da Amazônia, onde está preservado somente por que as pessoas não têm acesso”, aponta Mariani.

Segundo ele, o EIA-Rima (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto ao Meio Ambiente) foi feito, mas de forma incompleta já que não se levou em conta a possibilidade de construção de ferrovias. A ONG não é contra as rodovias, “há certos lugares que não há outro jeito”. Mariani morou 12 anos no Pará, e relata que 80% do desmatamento ocorrem próximo à elas. “É uma situação que se torna inevitável já que o governo não controla o desmatamento nem nas frentes que já estão abertas, imagine como será a situação se o governo asfaltar todas as estradas que cortam a Amazônia?”, afirma.

Em setembro deste ano, o Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc anunciou a suspensão por 60 dias do processo de licenciamento ambiental da BR-319 e classificou a medida como preventiva para proteger a área mais preservada da Amazônia. Por enquanto a obra está parada.

O governo aponta a necessidade de se asfaltar a polêmica BR-319, pois por ela é feito o transporte de produtos da Zona Franca de Manaus até São Paulo. O balanço mais recente divulgado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê a conclusão da rodovia até 2012.

* A cobertura do Encontro Latino-Americano de Comunicação e Sustentabilidade está sendo feita por uma equipe de jornalistas. A coordenação é de Naná Prado e o material será publicado no site da Envolverde (http://www.envolverde.com.br) e do Mercado Ético (http://www.mercadoetico.com.br).


(Agência Envolverde)

Sustentabilidade: cola ética para a crise moral

por Isabel Gnaccarini, para a Envolverde

Empresas e Sustentabilidade foi o tema que encerrou o primeiro dia (16) do evento realizado pelo Instituto Envolverde, discutindo os diferentes enfoques da sustentabilidade na mídia e no mundo. O Encontro Latino-Americano de Comunicação e Sustentabilidade segue até sábado (18) e ainda há vagas para participar.

Já resumindo o clima do dia, o jornalista Adalberto Marcondes recepcionou os participantes do evento lembrando que “a sustentabilidade é a ferramenta capaz de nos assegurar futuros”. E acrescentou “é a cola ética para a crise moral, social e econômica que vive a sociedade”, disse. Uma sociedade, aliás, guiada pela técnica, mas com pouca ética, como pontuou a senadora Marina Silva em sua palestra magna proferida na abertura. Na perspectiva da discussão aberta, o tema do posicionamento sustentável das empresas toma contornos capitais.

Na mesa, a consultora em sustentabilidade empresarial, Flávia Moraes, prega o auto-conhecimento como primeiro passo para aquelas empresas que queiram tomar o caminho da responsabilidade para com a sociedade e o planeta. “A empresa deve representar ela mesma a mudança que queira empreender em seu espaço de ação”, disse Flávia. A ex-diretora de comunicação da Philips tem larga experiência em direcionar empresários para o tema. Suas falas ecoaram em uma mesa eminentemente técnica, mas que tentou questionar os rumos de uma comunicação institucional para essa área.

Antes de alcançarem uma reputação responsável e comunicarem todas as suas ações positivas aos parceiros, é “preciso que as empresas abram um verdadeiro diálogo” entre as partes envolvidas, sejam ONGs, comunidades e outras. “Uma empresa nunca será sustentável se reproduzir a injustiça social reinante na sociedade”, ensina Flávia Moraes. Para além de incorporarem os valores do triple bottom line, uma empresa deve permear suas atitudes pela ética. Ou melhor, antes de tomar o compromisso com ações sustentáveis (e comunicar estas ações!), as lideranças empresariais devem reorganizar seus negócios e trazer para suas lideranças o pacto da mudança de dentro para fora.

Segundo a consultora, ao se perguntarem se de fato seus bens e serviços são relevantes, se o seu investimento na área social visa à construção de um novo paradigma, ou se conseguem de fato ouvir os beneficiários de seus projetos, presidentes e CEOs estarão no caminho de rever conceitos importantes e transformar seus negócios em empresas verdadeiramente orgânicas.

Ao compartilharem das idéias da consultora, Luis Fernando Maia Nery, gerente de Responsabilidade Social e de Comunicação Institucional da Petrobras, e Pablo Barros, coordenador de Comunicação do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), também acreditam que o importante processo traz incomensuráveis retornos de credibilidade, confiança e reputação (ou imagem) para a marca e o negócio.

Para ambos, não é mais possível pensar a comunicação empresarial sem pensar em co-responsabilidade de todos para com todos, em um contexto planetário. Hoje, esta comunicação empresarial deve ser participativa e voltada ao conhecimento caso queira ser uma ponte para um relacionamento de confiança de empresas com seus clientes, fornecedores ou parceiros. Nestas idéias, estão a base para um novo posicionamento do negócio. E, até para um novo paradigma de desenvolvimento econômico, social e ambiental.

No caso da Petrobras, uma das grandes conquistas almejadas é “ser considerada por todos como uma empresa grande e rentável, preferida entre seu público de interesse”. Este sim é um grande valor sustentável, segundo Nery. Alcançá-lo é trabalho que impõe um ritmo inerente a um processo de transformação, onde se criam “valores com riscos minimizados”.

Comunicar esta estratégia com transparência em relatórios de prestação de contas à sociedade é a ponta de uma cadeia de esforços concentrados, onde a evolução de padrões de transparência fez com que empresas como a Petrobras adotassem modelos elaborados de balanço social, caso do G3, do Global Reporting Initiative (GRI).

Seja adotando os princípios de responsabilidade social do Instituto Ethos ou modelos sofisticados de contas sociais, a sustentabilidade em uma empresa já não pode mais ser tratada como uma simples alavanca de imagem corporativa. Mas deve refletir mudanças de paradigmas. Ao menos é o que se espera para um mundo com novos valores.

* A cobertura do Encontro Latino Americano de Comunicação e Sustentabilidade está sendo feita por uma equipe de jornalistas. A coordenação é de Naná Prado e o material será publicado no site da Envolverde (http://www.envolverde.com.br) e do Mercado Ético (http://www.mercadoetico.com.br).


Crédito de imagem: Clóvis Fabiano


(Agência Envolverde)